VISITAS DO ARTISTA Para Gilberto Rosenmann Fizesse sol ou fizesse chuva lá vinha ele! Quase todos os dias, meio que cambaleando por causa do antigo acidente de automóvel, lá vinha ele. Algumas vezes trazia nas mãos uma sacolinha com alguns doces, ou um quadro pintado, outras o pão que já tinha comprado na Viana: — Pro café. Dizia. — Posso ligar pra Solange? — Claro Gil! Senta aí e liga pra ela. E depois disso ficávamos, por um bom tempo, em silêncio; outras vezes ríamos, antes de desandar no bate-papo. Do que ríamos? Até hoje não sei direito. Só sei que ríamos e depois vinha um breve silêncio, por alguns segundos. Parecia uma espécie de mantra; sei lá. Um tipo de cumprimento especial que só existia entre nós dois, como esses cumprimentos de chegadas e partidas, cerimoniosos ou lacrimosos, que encontramos entre tribos indígenas. Por vezes, depositava os embrulhos no chão ou os segurava entre as pernas mesmo. E soltava umas pérolas. Que já eram consenso, pois já sa