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Mostrando postagens de março, 2019
Em broto toda flor Para todos que se vão e para todos que aqui estão. E, nesta ocasião, para o Prof. José Manoel Gonçalves Gândara (In memoriam). O caminho é misterioso e intangível, portanto impenetrável e também indivisível. Não sabemos de fato como será nossa vida, não temos qualquer controle sobre o que, ousadamente, se chama destino. Porque tudo isto foi lançado da sempre repentina vinda ao mundo, como o nascer do sol ou o aparecimento de uma estrela, cuja memória da espera jamais conseguirá resumir o encantamento com todo surgimento misterioso. Assim iniciamos nosso convívio com tudo, com turbilhões de formas e cores, com a profusão de seres, com os mistérios de nossa linguagem, embalados de um colo maternal; síntese de nossa natureza efêmera e frágil – eternamente presa às divindades que nos abandonaram no mundo. Construímos com nossas mãos, sentimentos e consciência, esquecidos de que certa espécie de magia tudo envolve. E por isso o mistério infindo. Mas torn
ZOO                                                    I Um Grou Pescando o reflexo Da lua no riacho. A Harpia Ameaçando voos Sobre vales imaginários E o Jacaré Na sua micro lagoa De primitiva maré. II    As Araras      Um arco-íris musical. Uma Capivara Índia solidão submersa.       Os Cervos   Em seus velozes Cerrados virtuais. E uma Anta   Monstruosa meiguice   Da aurora que se vai. III Os Ursos Fortes braços Que em torno do nada Adormecem. A Lhama Musical-andante             Nostálgica sonata andina. E o Chipanzé   Imensos braços   Da flora ancestral. IV                                       Os macacos Lenta nostalgia Do mormaço primordial. Um Hipopótamo A aquosidade Azul sideral.            A Girafa        Dá-nos os astros Que pisamos distraídos. E os Cágados Lentamente Aprisionam-nos Lentamente Em velo
DEDICAÇÃO E ARREBATAMENTO Hoje me dediquei com afinco, e com um insubordinado prazer, a algo que me daria uma imensa alegria. Uma alegria daquelas que só possuem as crianças e os loucos; sim as crianças e os loucos! Pois só estes vivem plenamente a alegria do instante e o regozijo repentino; assim, sem pensar. Pensar. Ah pensar! É por vezes quase morrer; pensar é uma forma sutil de desfalecimento contínuo, morte do prazer, do que não se absolutiza, do fluído, do indelével, para a glória, para a eterna glória da construção da civilização. Como é necessário o pensar para subsistir! Não o é para viver, mas o é, extremo e desesperado, para sobreviver. E como precisamos sobre-viver! Traçar essa linha tênue de história e cultura sobre nossa nudez ancestral! Que primatas seríamos nós; se nus de tudo não vestíssemos as belas tramas coloridas da cultura, da língua articulada e de consciências mobilizadas para uns fins: que fins? Supor que construímos a civilização, deixando nossos ras
PARA SEMPRE E AGORA Para os amigos que desafiam o tempo. Ou um silêncio com ecos. Nada é para sempre! Sempre afirmara para si mesmo o eremita . Com aquele seu olhar taciturno e sua permanente urgência em passar a mão sobre os olhos, como se com isso pudesse apagar, repentinamente e para sempre, uma cena que lhe desagradava. Assim como, ao mesmo tempo, aquele hábito estranho de simular um toque suave com as mãos em uma coisa desejada ou uma paisagem distante, como se aquela coisa fosse a partir de então guardada, imperecível, consigo; e não pudesse mais escapar de sua imaginação e de seu coração. Como uma pintura que se preserva na solidão de uma parede! Há tempos aprendera a cultivar os mesmos hábitos; as ruas solitárias, por várias vezes imersas na mesmice em meio a multidões. A mesma rua, o mesmo horário, pareciam abrigos a lhe conduzir, assoviando velhas canções, ao mesmo lugar. Ao mesmo canto do mundo e ao mesmo drink . - Pendure meu casaco, por favor! Disse ao