Experimento-texto para o lugar onde trabalho

José Luiz de Carvalho

 

A transição do século dezenove para o vinte no Brasil traz uma série de complexidades. Naturalmente como é complexa e diversa a história humana, desde que a revolvamos pelos escombros. Em 1889 dá-se um golpe militar que atinge em cheio o Segundo Reinado, com a deposição do imperador D. Pedro II; evento este insistentemente escrito nos anais da história oficial brasileira como Proclamação da República. Do XIX para o XX as combalidas monarquias desabavam como temporais de verão.

 

Os signos do Império com suas toponímias populares e seu culto do um líder carismático dava lugar a um cortejo de novos personagens oficiais fortalecidos, sobretudo, pela vitória da Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai (1864-1970) e pelo apogeu dos engenhos e das fazendas onde a força de trabalho era feita pela escravidão, pela submissão vil e cruel dos povos desterrados da África e dos indígenas.

 

A cidade de Curitiba, nesse contexto, era ainda a modesta vila que se tornara capital da mais jovem Província, criada em 1853. A elite local, os homens e mulheres nobres, “bons” e ricos, paranaense e curitibana desse período, embotelada com seus títulos, muitos nobiliárquicos, se fazia da riqueza oriunda de ciclos como o comércio da erva-mate, das fazendas, da compra e venda de escravos   afro-brasileiros e indígenas.

 

A edificação a que chamamos “Palácio da Liberdade”, portanto, sede atual do Museu da Imagem e do Som, desde 1989, com sua imponente arquitetura oitocentista[1] é um legado desse período de transição histórica, de um país cuja escrovacracia ainda se mantinha como base; com a proposta de uma transição da mestiçagem morena para a “branquitude” social com a chegada especialmente dos colonos europeus.

 

Edificada a partir de 1870, obra arquitetônica de Ernesto Guaita, pela família Weiss, Leopoldo Ignácio Weiss e Isolina Esaura Carneiro Weiss, a casa, à qual se daria a alcunha de “palácio”, é vendida à União em 1890 – na aurora da República, no crepúsculo da Monarquia.

 

Foi então sede do Governo do Paraná de 1890 a 1937.

 

Como disse o grande poeta paranaense Nestor Victor no poema Transfiguração “Tudo dorme em silêncio, onde a luz é extinta...”, há de se contar a história do palácio-casa, mas por diversas outras perspectivas, a partir muito mais do que tanto vela e não suntuosamente exibe.

 



[1] Cfe. Inscrição 59-II, processo 60/77, 20.07.1977, Livro do Tombo Histórico/CPC-SEEC-PR.

 

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