Em broto toda flor
Para todos que se
vão e para todos que aqui estão. E, nesta ocasião, para o Prof. José Manoel Gonçalves
Gândara (In memoriam).
O caminho é
misterioso e intangível, portanto impenetrável e também indivisível. Não sabemos
de fato como será nossa vida, não temos qualquer controle sobre o que,
ousadamente, se chama destino. Porque tudo isto foi lançado da sempre repentina
vinda ao mundo, como o nascer do sol ou o aparecimento de uma estrela, cuja memória
da espera jamais conseguirá resumir o encantamento com todo surgimento
misterioso. Assim iniciamos nosso convívio com tudo, com turbilhões de formas e
cores, com a profusão de seres, com os mistérios de nossa linguagem, embalados de
um colo maternal; síntese de nossa natureza efêmera e frágil – eternamente
presa às divindades que nos abandonaram no mundo. Construímos com nossas mãos,
sentimentos e consciência, esquecidos de que certa espécie de magia tudo
envolve. E por isso o mistério infindo. Mas torna-se uma alegria, um regozijo,
estar aqui. Ver tudo, sentir tudo, amar ou não tudo. Concebemos materialidade e
temporalidade à vida, como na ilusão dessas formas ela nos pôs nesta travessia.
E acreditamos que uma efetividade derradeira das coisas pode estar ali resumida,
como vaidosas flores esquecidas de suas ingênuas fases em botões. Mas ali, no
fulgor do aparente, nem tudo está! Ali o destino de todas as coisas é
fundamentalmente passar. Pois é na transitoriedade da matéria e no seu
perecimento que o mundo das coisas busca sempre renascer. Porém, há algo sem
aparência ou forma, essência, onde o que é extemporâneo deixa um rastro tênue,
mas poderoso: o espírito. Nossa capacidade de sonhar, apreender, ensinar, a
música da nossa voz, o calor do nosso abraço, a mística insondável do nosso
olhar, a poderosa energia das nossas lágrimas e dos nossos sorrisos e o rugir
criador e incontrolável dos nossos corações. Tudo ali foi vontade, símbolo,
sentido e (in) consciência - tudo ali foi e é espírito! E este jamais perece. Ecoa, numa espécie de encantamento, nos tornando
imortais. A lembrança anseia pela matéria, mas o que acha é a espiritualidade
da forma, sob o desígnio de uma saudade. Viver é deslumbramento, morrer é desatamento
do espírito para eternidade!
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