RETRATO INDECIFRADO
Eis que por estar
Assim tão longe de ti
É que me mantenho tão perto.
Sei que não gostavas
De perturbar os silêncios,
Por isso ora levo meu barco
Para o remanso dos dias intensos
Em direção ao murmúrio das águas.
Sei também que não deixastes
Solução para os enigmas
Dos amanheceres incertos
E dos caminhos sem voltas,
Por isso dia a dia edifico
Esta rota de delírios
Vereda de espinhos e rosas mortas.
Eis que por estar
Assim tão longe de ti
É que me mantenho tão perto.
Para qualquer observador
Que estiver à margem
Este retrato parecerá
Tão indecifrável
Até mesmo uma insanidade.
Mas sabemos por nosso
Desconhecido pacto
Que lonjuras sem medidas
E destinos ausentes de lugares
Não significam a impossibilidade
Da verdade.
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